Aplicativos não são responsáveis por alguém transar sem
camisinha, mas ajudam a elevar número de parceiros e facilitam sexo
casual numa geração menos informada sobre a Aids.
O
crescente uso de aplicativos de paquera, como Tinder e Hornet, vem
facilitando o sexo casual e seria um dos fatores comportamentais por
trás do aumento do número de jovens gays infectados pelo HIV e também
dos casos de sífilis no Brasil. Os aplicativos, claro, não são
responsáveis por alguém fazer sexo sem camisinha, mas ajudam a ampliar o
número de parceiros sexuais, o que favorece a disseminação de doenças
quando não há proteção.
Os índices de infecção por HIV vêm
caindo globalmente na última década. No entanto, entre adolescentes,
sobretudo gays, eles crescem em algumas partes do globo, como na Ásia e
no Brasil. Dados do Unicef mostram que a taxa de homens de 15 a
19 anos infectados pelo HIV mais que duplicou nos últimos dez anos (de
2,4 casos por cem mil habitantes, em 2006, para 6,9, em 2015). O
mesmo ocorreu na faixa de 20 a 24 anos (de 15,9 casos por cem por mil
habitantes para 33,1). Em outras faixas etárias, a tendência é de queda.
Vários fatores explicam esse crescimento, como a falta de educação
sexual nas escolas, o desconhecimento sobre a Aids entre as novas
gerações e também o baixo uso de preservativos.
Dados do
Ministério da Saúde mostram que o uso da camisinha vem diminuindo. No
ano passado, por exemplo, 55% da população sexualmente ativa disse não
ter usado preservativo em sua última relação. Em 2013, esse percentual
era de 45%.
Conservadorismo cresce, e educação sexual vira tabu
"Estamos chamando a atenção para o problema há algum tempo: deixamos de
falar com a juventude e precisamos encontrar um meio de falar sobre
HIV", afirma a diretora do Programa de Aids da ONU no Brasil (Unaids),
Georgiana Braga-Orillard. "Além disso, o Brasil não está investindo em
educação sexual, o conservadorismo cresce, o tema é cada vez mais tabu, e
fica difícil implementar o pacto social necessário para proteger nossos
jovens."
Segundo ela, a situação é especialmente difícil para
os jovens gays e, mais ainda, para as trans. O declínio no uso do
preservativo é um fator importante por trás da nova epidemia de sífilis,
declarada pelo Ministério da Saúde no fim de novembro. Mas um outro
problema considerado crucial é a escassez de penicilina, o principal remédio usado no tratamento da doença.
Dados recentes mostram que o número de pessoas infectadas pela doença
aumentou 32,7% entre 2014 e 2015, chegando a 65.878 casos em 2015. O
aumento foi expressivo em todas as faixas etárias.
"Tem havido
um descuido maior com relação ao uso do preservativo, há muito temos de
volta uma certa censura na divulgação das formas de prevenção do HIV, as
campanhas do ministério sofrem perseguição da turma mais conservadora.
Tem havido um certo relaxamento em relação ao HIV e, exponencialmente,
em relação à sífilis (que é muito mais facilmente transmissível)",
explica o infectologista Estevão Portella, da Fiocruz.
"Mas a penicilina está em falta no país inteiro, e os métodos alternativos de tratamento não são muito eficazes."Da Deutschewelle